O casal perfeito : Rainha de Copas e Lorde Voldemort

2 06 2010
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Um post muito bom sobre gestão empresarial, tomada de decisão, estrutura organizacionais e tudo isso fazendo um comparativo com alguns filmes.

Esse texto foi inspirado em um post que minha amiga Adriana publicou no blog da HSM (Acesse aqui) sobre um artigo, que será publicado na edição de julho-agosto da revista HSM management, sobre um reality show inglês que ajudou o presidente de uma construtora a sair de seu “País das maravilhas”, que ela chamou de ManagementLand, e conhecer a realidade da organização.

Já escrevi em posts anteriores que o tamanho das empresas e de suas estruturas organizacionais afastaram os tomadores de decisão da realidade de quem está em contato direto com o cliente. Quanto maior a quantidade de níveis hierárquicos, mais afastada da realidade do cliente a alta administração está e, diante disso, as decisões, geralmente, têm poucos dados e pouca vivência dessa realidade e, por essa razão, mostram-se quase que totalmente desconectadas dessas realidades.

No mundo da ManagementLand, o presidente de uma empresa está cada vez mais se tornando um Líder-Rainha de copas do filme “Alice no país das maravilhas”, que está com a visão de curto alcance e que precisa confiar nos assessores mais próximos que estão apenas um nível a mais próximo da realidade dos clientes e dos funcionários, confiando a eles a coleta de informações que levam a decisões como, por exemplo, mandar cortar a cabeça de Alice que, muitas vezes, se deve a implicância de apenas uma carta do seu baralho de soldados.

Na grande maioria das empresas, a alta administração age como a Rainha de copas. Vivem em seus castelos, geralmente no último andar, em ambientes com isolamento acústico físico e organizacional. Enfim, não conseguem enxergar com os próprios olhos o que acontece em toda a empresa. Na minha opinião, esse bloqueio se deve muito ao principal motivo porque não se inova na gestão que é a luta da gerência média pela manutenção do status quo.

O monarca no trono, como a Rainha Branca do filme,normalmente não promove revoluções. A maioria  dos sistemas de gestão, no entanto, dá uma parcela desproporcional da influência sobre políticas e estratégias a um pequeno número de altos executivos. Ironicamente, esse é justamente o grupo com mais interesse no status quo e o mais inclinado a defendê-lo. É por isso que empresas novas costumam ceder espaço a empresas novas.

Para completar, na grande maioria das empresas existe um casamento virtual da Rainha de Copas com o Lorde Voldemort, aquele que não deve ser nomeado, da saga do bruxinho Harry Potter. É um verdadeiro casal perfeito, pois um não consegue ver e ouvir, enquanto que o outro deseja que ninguém fale.

Escrevi sobre esse personagem da ficção organizacional após assistir, no fórum mundial de liderança organizado pela HSM ano passado, a palestra do professor Jeffrey Pfeffer, um dos maiores especialistas em gestão de pessoas, que, entre os vários ensinamentos que compartilhou com todos, destacou a necessidade que o líder aposte na verdade para liderar uma cultura de resultados extraordinários.

Esse é o ponto em que quero fazer com o Lord Voldemort. Quem acompanha a saga sabe que ele é o vilão e o assassino dos pais de Harry. O engraçado do filme é que a maioria  dos personagens não podem mencionar o nome do vilão, sempre se referindo a ele como “aquele que não deve ser nomeado”, sendo que Harry Potter é o único que tem coragem de falar o nome do vilão.

Sabemos que as pessoas dentro das empresas tem consciência dos problemas que suas respectivas empresas enfrentam e que emperram a busca por resultados extraordinários. Ocorre que a conversa e a reflexão sobre esses problemas não são estimulados por aqueles que deveriam liderar a mudança, mesmo sabendo que ela é necessária e inevitável.

Daí surgem aquelas conversas reservadas em lugares isolados e escondidos para falar desses problemas, para falar sobre “aquilo que não deve ser nomeado”. São poucos os “Harry Potter” existentes dentro das empresas que têm coragem para falar o nome do vilão “VOLDEMORT”.

Essa situação chega a extremos com a negação dos fatos como ocorre no quinto filme da série “Harry Potter e a ordem da Fênix” em que, após o quarto filme que marca a volta do vilão, o ministro da magia nega veementemente a volta do vilão e passa a perseguir Harry Potter chamando-o de mentiroso e irresponsável, ou seja, ao invés de verificar a veracidade da mensagem, tenta culpar o mensageiro.

Voltando ao post da Adriana, para combater esse casal perfeito, Adriana cita um livro, chamado “Monday Morning Leadership”, de David Cottrell, que tenta ensinar os executivos a escapar do Managementland sem ser à paisana como no reality show citado no início do texto. Para enfrentar essa realidade, sem ser a paisana, ela encontrou dez dicas:

  1. Seja um ouvinte excepcional. Mesmo. Não adianta fazer de conta que ouve quando, mentalmente, você está é recheando sua fala com mais argumentos.
  2. Vá para a linha de frente. Não é necessário disfarce. Basta ser o presidente de uma fábrica de iogurtes que fica quatro horas no supermercado uma vez por mês, observando o que os clientes falam, ou despende o mesmo tempo no call center da empresa. O raciocínio vale para todos os escalões de liderança, até o gerente júnior, o supervisor, o líder informal.
  3. Tenha, regularmente, reuniões um-a-um, ao menos com os funcionários-chave. Não fique só ouvindo o que um terceiro lhe traz de informações sobre a atividade deles. Vá direto à fonte. Mesmo sem querer, o terceiro deturpa a informação. Isso, quando não o faz de propósito.
  4. Faça reuniões informais com as pessoas, de café da manhã, cafezinho, chá da tarde, restaurante etc.
  5. Realize pesquisas com os funcionários. Muitas. A única desculpa aceitável para não fazê-las é você saber de antemão que não fará nada a respeito dos resultados.
  6. Não seja prisioneiro em sua torre de marfim. Saia sempre do escritório. Ande por toda parte.
  7. Valha-se da tecnologia das redes sociais online – blogs, twitter, facebook, msn– ou dos e-mails e SMS de celular, que seja. Em vez de reclamar que os outros usam esses instrumentos em excesso, use-os você também, como aliados, na medida certa.
  8. Vá almoçar sempre com funcionários, tanto quanto com clientes. No restaurante da empresa ou nos arredores. (O conselho coincide em certo ponto com o item 4, mas não 100%.)
  9. Estabeleça uma cultura suficientemente informal e arejada em que as pessoas se sintam à vontade para desafiar a autoridade e para falar o que realmente pensam.
  10. Busque feedback o tempo todo e em ângulo de 360 graus. Não adianta a opinião de um ou dois gatos pingados.

As perguntas que quero deixar para reflexão são : Quantos “Voldemort” temos dentro das empresas que precisam deixar de ser “aquele que não deve ser nomeado”? Quantas Rainhas de Copas precisam sair de seus castelos e terem contato e experiência com a realidade de toda a empresa? Onde estão os “Harry Potter” dentro das nossas empresas? Até quando teremos que negar a existência dos “Voldemort” dentro de nossas empresas? Será que é preciso que um executivo, em qualquer nível da empresa, tenha que se vestir a paisana, como no reality show citado, para conhecer a realidade cotidiana dos funcionários na empresa?

Um dos desafios criados pela brigada de renegados, que citei no primeiro post sobre inovação na gestão, para que seja desconstruída a gestão e um novo modelo ganhe espaço é criar uma democracia de informações, pois cada vez mais, a geração de valor se dará na interface entre funcionários e clientes. Esse pessoal precisa de informações e autonomia para poder fazer o que é certo para o cliente sem ter de pedir permissão.  Em ambientes voláteis como os atuais, todo funcionário precisa de liberdade e de dados para agir com inteligência. Se tiver que repassar a decisão as instâncias superiores, a adaptabilidade sofre. Para tomar decisões oportunas que reflitam os interesses da empresa, o pessoal na base precisa estar entre os mais bem informados da organização.

Se quisermos alcançar resultados extraordinários temos que passar a encarar de frente os “Voldemort” presentes em nossas empresas. Afinal de contas, para resolver um problema, de qualquer natureza, o primeiro passo é reconhece-los e passar a nomea-los.

Para finalizar, a Adriana aconselha cuidado. Líder rainha-de-copas é o que não falta; é muito mais comum do que líder rainha-branca (supondo que ela seja antenada e empática). Em todo caso, fuja do Managementland. Ria com o Gato-que-Ri, corra atrás do Coelho-Sempre-Atrasado. Tome chá com o Chapeleiro Maluco. Identifique e nomei os problemas “Voldemort”existentes dentro das empresas. Não mande cortar a cabeça da Alice só porque uma carta do seu baralho de soldados implicou com ela. Abra as portas, as enormes e as minúsculas também. Humanize-se. Socialize-se.

O post foi retirado do Blog do Marcelão.

Um abraço a todos.